Crítica "Urinal - O Musical"
- itsonbroadway
- 6 de mai. de 2015
- 3 min de leitura

“Urinal – O Musical”, do original “Urinetown – The Musical” é uma comédia musical com libreto escrito por Greg Kotis, Música de Mark Hollman e Letras de ambos. A produção estreou no Off-Broadway em 2001 e depois rumou para a Broadway, faturando três prêmios Tony Awards.
A história do musical é entorno da consequência de uma seca de vinte anos, época chamada de Anos Fedidos, que causou uma terrível falta de água, fazendo com que os banheiros particulares não fossem mais possíveis. Todas as necessidades sanitárias da população são realizadas em banheiros públicos controlados por uma megacorporação chamada “Companhia da Boa Urina” (CBU). Para controlar o consumo de água, as pessoas devem pagar para usar essas dependências. Existem leis severas garantindo que o povo pague para fazer xixi, e se elas forem quebradas, o culpado é enviado diretamente para uma suposta colônia penal chamada “Urinal”, de onde jamais retornam. Tudo se dá no momento em que o jovem Bonitão (Bobby na versão original), incitado por Luz (Hope), aprende a ouvir seu coração e inicia uma revolta popular que pode mudar o destino de todos.

(Foto da produção do West End (Londres) com Rosanna Hyland e Richard Flesshman)
As versões em português por Fernanda Maia e Zé Henrique de Paula, supervisionadas por Claudio Botelho, são engraçadas, atraentes e inteligentes, com um texto repleto de metáforas e alusões aos tempos modernos, porém mantendo-se fiel a toda ideia do original. A coreografia de Gabriel Malo e Inês Aranha faz uma mistura com o texto e se mantém equilibrada, limpa, dinâmica e direta, sem repetições e reforços no que está sendo dito e cantado.
Com inspiração nos becos vitorianos, a cenografia é simples, enxuta e se desdobra em vários locais apenas com adições de alguns elementos cênicos. Distribuído num nível entre duas escadas, com paredes de tijolos escuros, o cenário carrega a impressão de se passar dentro dos esgotos, aproximando-se mais da precária condição em que se encontra a história. Os figurinos exemplificam o incógnito futuro, com mesclas de cores e sobreposições de tecidos rotos e desgastados sem nenhuma referência aparente, apenas o afastamento de algo normal e dentro dos parâmetros da situação atual, como é mostrado na peça; todos tão talados quanto o próprio momento que estão vivendo.

(Elenco brasileiro. Foto por Ronaldo Gutierrez)
O desenho de luz é tão rico e importante quanto os personagens, pois sua intensidade e a forma como transita e se infiltra nas cenas é essencial para a condução da narrativa; os sentimentos e ambientações são fortificados através das variações sensitivas da iluminação.
O elenco é simplesmente incrível do início ao fim do espetáculo. A composição de vozes forma um coro timbrado, colorido e empolgante, com uma homogeneidade perfeita no som; surpreendendo mais ainda pela falta de microfonagem que só peca às vezes quando a potência vocal do ensemble na música é tão poderosa que dificulta um pouco a compreensão das passagens do solista.
Caio Solay traz um Bonitão (Bobby) jovem e potente cujo sangue de revolução corre nas suas veias e anseia para achar saída, e, quando acontece, ele entrega tudo numa atuação sincera e presente que emociona a todos, com vocalizes de tirar o fôlego. Bruna Guerin também cumpre o que foi dado despejando doçura e pontuando com o humor singular de sua personagem Luz (Hope), que se desenvolve grandiosamente ao longo do musical, indo da cegueira à independência sem perder sua essência, tocando a Bonitão e a todos com sua voz suave e aguda. Daniel Costa se destaca grandiosamente na pele do Policial (Officer Lockstock) como o inclemente oficial, responsável por passar sobre tudo para cumprir a lei; e também faz o papel de narrador da história, mostrando a influência do estilo presente nas obras de Brecht, com sua postura misteriosa, cheia de sarcasmo e engraçada ele incita e conversa sobre pontos que estão acontecendo no meio da peça.

(Foto por Ronaldo Gutierrez)
O musical é fresco, inovador e propício para a atual fase de crise hídrica pela qual São Paulo está passando, contado de forma extremamente inteligente e entusiasmante, a fim de conscientizar a todos.
“Urinal – O musical”, um pacote de drama e comédia recheado de camadas que vão se revelando à medida que a história vai evoluindo, foge dos parâmetros regulares de um espetáculo da Broadway, satirizando alguns shows e gerando um laço único com o espectador. Entre o humor, paixão, crítica à população, burocracia, capitalismo, exploração e segregação, revela e enfatiza o ditado: “Tira dali, falta daqui” de forma clara e compreensiva; uma lição meditativa passada em tom cômico.
O espetáculo se encontra no Teatro do Núcleo Experimental
Horários: Segunda, sexta e sábado às 21h. Domingo às 19h.
Preço: 40 reais (inteira) e 20 reais (meia) - (Entrada gratuita às sextas com ingressos distribuídos na bilheteria do teatro)
Temporada até 6 de julho
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