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Crítica de "Chaplin, O musical"

  • Julio Cezar
  • 25 de jun. de 2015
  • 3 min de leitura

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Embora se trate de outro cenário de Teatro Musical, mesmo com ligação mais do que direta, quando fora anunciado a produção de “Chaplin, O musical” aqui no Brasil, em São Paulo, o medo do fracasso do espetáculo se repetir era quase iminente, levando-se em consideração que o original da Broadway havia fechado com cerca de 130 apresentações em 2012.

O musical é uma imersão completa na carreira e vida do icônico e imortal Charles Chaplin, explorando sua genialidade, acessando pontos recônditos de sua personalidade por detrás da máscara cênica tão conhecida.

O primeiro ato, os primórdios de sua vida ao grande sucesso, é a construção minuciosa do garoto ao homem cheio de talentos, a conexão forte que possuía com a família, e é onde se concentra também a parte mais cômica. Sidney, o irmão, interpretado por Marcello Antony, vem como uma figura num desempenho praticamente paterno para Chaplin, acabando por se expressar mais como um mentor que tem muito amor pelo parceiro, e não o contrário; embora este sentimento de uma personagem para outra seja bem explícito e reforçado durante a narrativa. A tão esperada criação de O Vagabundo, o notório personagem de Charlie, acontece numa passagem simples, porém extremamente tocante através de flashes de toda a influência, conselhos e explicação que sua mãe, Hannah, lhe deu em sua infância, entregando toda a inspiração necessária a ele.

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O segundo ato é o declínio pessoal e artístico, os anos obscuros, em que o cinema falado concede voz demais para Charlie, que se torna uma pessoa enfatuada e perde totalmente as rédeas de quem era; examinando mais toda a relação que teve com a União Soviética. Embora há pontuações estratégicas, entre estes dois atos há passagens arrastadas que, por vezes, se tornam até desnecessárias por detalhar demais a construção do perfil de Charles e seus conflitos.

Jarbas Homem de Mello, vivendo o protagonista, surpreende em cena e honra todo o preparo que levou para a construção da personagem que tanto queria fazer. Jarbas transita facilmente entre os polos em que a peça é fundamentada, indo do drama ao cômico e mesclando esses dois de forma acrobática e natural. Os movimentos característicos de Charlie que ele refaz impressionam pela forma natural como são expressos, incutindo mais ainda a figura marcante que este foi. Destaca-se também Giulia Nadruz, que interpreta Oona O’Neill e a Florista Cega numa doçura e transição suave, colocando a sua voz como um perfeito cântico a Chaplin, que tanto o muda como pessoa quanto emociona a quem ouve. Paula Capovilla, em contrapartida, é a vilã perseguidora, insaciável, altiva e austera Hedda Hooper, o peão jornalístico responsável por rastrear cada passo dado pelo ícone.

Tecnicamente o espetáculo é empolgante pela forma como conduz o espectador a uma perfeita viagem ao tempo, como exatamente os bastidores de um documentário vivo que está sendo rodado, com diversas projeções em preto e branco que ampliam e melhor ambientam todo o show.

O musical possui uma grande plenitude e um ar fresco por ser a primeira vez que é apresentado desde que fechou na Broadway, com muito do libreto sido refeito e reconsiderado, como a figura de Fred Karno, o empresário que descobre Chaplin que foi cortado do original e é, pela primeira vez, encenado com riqueza pelo ator Leandro Luna. O ensemble de vozes tem ampla sonoridade, é brilhante, claro e perfeitamente harmonioso, que conclama com potência o pano de fundo no qual se desenvolve a história.

“Chaplin, O musical”, com o teor histórico que carrega, desempenha um valor familiar, funcionando e sendo acessível a todas as idades numa ilustração contrabalanceada da vida de um artista enobrecido pelo seu legado e a pessoa errante, através da telas do cinema que amava, dentro de seu cenário constantemente roteirizado.

Serviço:

Theatro Net SP - Shopping Vila Olímpia

Horário: Quintas e Sextas, 21h. Sábados às 18 e 21h. Domingos às 21h

Ingressos: de 50 a 170 reais

 
 
 

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