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5 musicais que quebraram a Quarta Parede


Tudo no teatro existe por um motivo. Nada está lá apenas por estar, é sempre bom lembrar. Se algo acontece, como essa intervenção, tem um nome e um conceito por detrás.

E se você chegou até aqui sem saber o que significa o termo Quarta Parede dentro do Teatro, provavelmente você a sentiu (ou sentirá) todas as vezes que assistiu uma peça na qual ela foi quebrada. Isso acontece quando o ator, o próprio texto ou qualquer artificio cênico, rompe essa parede invisível que existe separando o palco e a plateia e alcança o público, passando a promover um diálogo, integrando-o de alguma maneira ao universo ficcional apresentado.

Abaixo, separamos alguns musicais da Broadway que fizeram isso ao longo de sua história, e que ainda continuam fazendo.

Aqui vemos um clássico exemplo de integração do conceito da Quarta Parede que, historicamente, dentro da fórmula melhor assimilada do estilo de Teatro Musical Americano que conhecemos hoje, começou a ser impulsionado com a dupla Rodgers & Hammertein.

Sendo um grande admirador dessa integração, Sondheim, durante a construção de Into the Woods, não só quebrou o conceito da Quarta Parede com o personagem do Narrador no espetáculo, como também a derrubou totalmente.

Em Into the Woods, O Narrador é a voz implícita do público antes de se dirigir a ele, e cumpre seu papel de narrar a história, ser um personagem e também tirar suas conclusões acerca de julgamentos e lições de moral e conduta dos demais.

Em "Urinetown" (no Brasil "Urinal", Núcleo Experimental, 2015) temos mais um caso de Quarta Parede derrubada pelo narrador nessa comédia que se passa num futuro distópico. Logo nos primeiros versos do número de abertura, Lockstock, um oficial responsável por cuidar de um dos muitos banheiros públicos pagos durante a Crise do Saneamento, quebra a Parede quando ironiza com seu humor negro a própria peça para o público, deixando claro o que todos estão prestes a assistir e que não terão seu dinheiro de volta caso não gostem de todo o infortúnio que eles vão passar.

É um musical deliciosamente debochado e que lança uma luz a diversos pontos políticos e sociais, e fez um sucesso estrondoso quando estreou no circuito Off-Broadway aqui no Brasil em 2015. Numa produção do Núcleo Experimental, o espetáculo foi tão aclamado pelo público e crítica que ganhou outras temporadas em teatros maiores, chegando a conferir um Prêmio Bibi Ferreira de Melhor Atriz para Bruna Guerin e de Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Costa, por seu papel como Lockstock.

A adaptação de só setenta páginas do histórico romance de Tolstoi, Guerra e Paz, feita por Dave Malloy, do libreto às músicas, ganhou notoriedade mundial depois de sua estreia estrondosa na Broadway, em 2016, a ponto de ser produzido logo depois aqui no Brasil em 2018, recebido com o mesmo prestígio e sucesso.

"Tá tudo aí no programa, isso é um teatro! Dá uma estudadinha antes, por favor, para você poder entender. Porque é um romance russo complicado, muito nome pra decorar. Leia bem direito o programa e obrigado pela atenção” (excerto da Versão em português do espetáculo).

E lá se vai a Quarta Parede da história em menos de dois minutos do Prólogo do musical cantado por todo o elenco, exceto por Andrei (porque não está aqui, ou lá, no caso). No entanto, não muito satisfeito de nos incluir na compreensão da história e nos conta-la de modo direto, o espetáculo se torna um show de imersão à parte ao incluir um serviço de comida russa e ainda por cima num ambiente totalmente desconstruído dentro do teatro, tendo o palco em meio a plateia.

Se esse não é a maior referência atual de quebra da Quarta Parede, então eu não sei qual é!

Emcee não dá boas-vindas para a plateia em vários idiomas sem motivo algum. Em “senhoras e senhores”, ainda no comecinho de “Willkommen”, quando se dirige para os espectadores enquanto desce do palco, esse narrador problemático já quebrou a Quarta Parede.

Em “Cabaret”, um show dentro de um show, nós somos cada integrante do Kit Kat Club por uma noite na Berlim fria de 1930; fazemos parte da história que fala sobre gente, sobre conflitos internos e externos daquela época. Isso mesmo já era o suficiente para derrubar qualquer parede.

Raramente em uma peça ou musical infantil não haverá a quebra da Quarta Parede, exatamente porque esse recurso também faz parte de um pensamento técnico para conseguir incluir esse público em especifico melhor na história, para prender sua atenção ao torna-lo parte do espetáculo.

Por isso em “Avenue Q”, esse vencedor do Tony Awards de Melhor Musical, que é em grande parte inspirado no programa Vila Sésamo, tecnicamente falando, era quase obrigatório que essa quebra existisse, ainda que ele esteja muito, muito longe de ser um musical infantil.

Nesse espetáculo, os personagens brincam com o público, abrem linhas de questionamentos, pedem dinheiro em meio a plateia, como em “The Money Song”, e também lançam reflexões diretas aos espectadores acerca dos problemas pelos quais estão passando.

É muito bom deixar claro que essa intervenção cênica também existe muito pela necessidade de um toque a mais no discurso dramático do texto para atingir de outras maneiras os espectadores, que não apenas através das lições que são absorvidas do discurso indireto e suspenso.

Outros musicais com quebra da Quarta Parede: Chicago, The Drownsy Chaperone (A Madrinha Embriagada, Atelier de Cultura, 2013), The 25th Annual Putnam County Spelling Bee, The Mistery of Edwin Drood.

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